segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Equipe mineira se prepara para disputar principal competição do ciclismo brasileiro

O ciclismo mineiro será representado por uma única equipe, a X-PRO/IB FACTORING de Belo Horizonte, no Tour do Brasil de 2010, uma das competições mais importantes do esporte no país, popularmente chamada de Volta de São Paulo. O Tour será disputado em etapas diárias, entre os dias 16 e 24 de outubro.

Muito difundido na Europa e em alguns estados do Brasil, o ciclismo enfrenta dificuldades para se popularizar em Minas. Tendo como órgão máximo no país a Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC), o esporte dispõe de três modalidades olímpicas: os ciclismos de estrada, de montanha e de pista (velódromo), além do BMX, que não é olímpico.

O presidente da Federação Mineira de ciclismo, Welington de Souza, de 55 anos, aponta o desinteresse do Poder Público em investir em obras que influenciem um maior uso de bicicletas como maior empecilho para o esporte no estado. “Não vemos ciclovias sinalizadas em Belo Horizonte, apenas no interior. A BHTrans afirma que há 20 km de ciclovia na capital, mas não há”, afirma Souza. “Não há acesso do centro a outras regiões, nem bicicletários. Você tem coragem de pedalar do centro até o Mineirão, por exemplo?”, ironiza o presidente.

Apesar das dificuldades, Minas Gerais será representado no Tour do Brasil. A equipe X-PRO/IB FACTORING (União Ciclística MG) está cotada para receber o convite da CBC para disputar o Tour, pois é a décima melhor equipe no ranking nacional (as doze primeiras são convidadas). Apesar de existir desde 2007, apenas neste ano a equipe ganhou contornos profissionais, chegando a disputar colocações no ranking nacional. O Tour do Brasil de 2010 será o primeiro disputado por ela.

Dez atletas compõem a equipe que viaja a São Paulo. Cada membro compete com sua bicicleta própria, como explica Marcelo Donnabella, de 41 anos, diretor técnico da equipe. “No nosso caso, conseguimos do patrocinador apenas equipamentos, manutenção e uniformes, mas apenas equipes grandes têm patrocínio que cede bicicletas. Na equipe Salles Supermercado (extinta equipe de BH), tínhamos o patrocínio da Pinarello, que acabou nos cedendo 16 bicicletas em uma oportunidade”, relembra.

Algumas dificuldades impedem que a equipe se reúna para treinamentos contínuos. Apenas dois atletas se mantêm através da renda do ciclismo profissional e o restante possui empregos comuns. Dessa forma, o principal meio de preparação da equipe são as competições ao longo do ano, como explica Donnabella. “Precisamos participar de competições onde há mídia, pois, diferente de equipes paulistas, precisamos da divulgação, que atrai patrocínio, nossa única forma de manutenção. Procuramos, também, nos reunir semanalmente para pedalar até Ouro Preto ou Confins. Às vezes, na região da Pampulha, que é plana”, explica.

O diretor técnico aponta o ciclista Wagner Pereira Alves como o grande destaque da equipe e a esperança de vitórias no Tour. “Ele foi o segundo colocado no Giro do Interior de São Paulo e o terceiro melhor brasileiro na America Tour, competição realizada em toda a América. Depositamos nossas fichas nele”, conclui o diretor.

Crimes dificultam a prática do ciclismo na região metropolitana

Uma das principais associações de ciclistas de Belo Horizonte, a Mountain Bike BH (MTB-BH), divulgou no início de agosto um levantamento de dados, coletados a partir de informações de seus integrantes, onde aponta que, em menos de três semanas, dez bicicletas foram roubadas na região metropolitana de BH.

O presidente da Federação Mineira de Ciclismo, Welington de Souza, confirma que os roubos de bicicletas têm crescido, mas que o descaso das autoridades é também grande. “Um dos grandes motivos de o ciclismo não se massificar no estado é a insegurança. Recentemente, em uma competição realizada em Congonhas, foi identificada uma bicicleta roubada e a vítima reportou o fato para o policiamento local, porém o sargento simplesmente alegou não poder fazer nada”.

domingo, 25 de julho de 2010

Au revoir, Tour!



Chegou ao fim neste domingo a 97ª edição do Tour de France, uma das edições mais emocionantes da história. Pela terceira vez (segunda consecutiva), o espanhol Alberto Contador (equipe Astana, foto acima) foi o grande vencedor, mesmo sem ter vencido sequer um estágio, completando o percurso em 91h 58min 48s.

Também pelo segundo ano seguido, o luxemburguês Andy Schleck (Saxo Bank) foi o vice-campeão, mas diminuindo consideravelmente sua diferença para o espanhol. Em 2009, ele chegou mais de quatro minutos atrás, sem vestir a camisa amarela em nenhuma oportunidade. Este ano, sua diferença foi de apenas 39 segundos, além de ter sido dono da camisa amarela por seis estágios. A diferença foi a quinta menor da história do Tour.



Após a folga de quarta-feira, os ciclistas retornaram para um dos estágios mais duros desta edição, saindo da cidade de Pau, passando por duas metas de montanha de categoria 1, e cruzando a linha de chegada em uma meta de montanha fora de categoria, o temido Col Du Tourmalet (clique aqui e veja fotos dos 100 anos do Tourmalet no TDF). Era consenso que seria a última oportunidade de Schleck tirar os oito segundos de atraso que tinha em relação a Contador, pois sabe-se que o rapaz não faz contra-relógios tão bons quanto Contador. Começando a escalada do Tourmalet, muitos tentaram atacar para vencer a etapa, mas ninguém suportou, além do líder e vice-líder. A 10km da chegada, Schleck atacou e se destacou do pelotão. Contador foi na roda. Os dois não foram mais alcançados e travaram, novamente, um duelo épico. Nem a neblina, nem a chuva e nem os milhares de espectadores que estreitavam a estrada, diminuíram o ritmo dos dois. Ao fim, eles chegaram juntos, com Schleck à frente. Mesmo sem tirar a diferença, Schleck não deixou de comemorar a vitória no estágio e parabenizar Contador (foto acima).

No dia seguinte, uma etapa plana de 198 km entre Salies-de-Béarn e Bordeaux. Para variar, o britânico Mark Cavendish (HTC Columbia) foi trazido por sua equipe e venceu a etapa no sprint final. Foi o quarto estágio vencido por Cavendish neste ano. O resultado não alterou nada na disputa pela camisa amarela, mas colocou Cavendish de vez na briga pela camisa verde (disputa por pontos).

A definição do título aconteceu ontem, no contra-relógio de 52 km entre Bordeaux e Pauillac. O vencedor, assim como no contra-relógio que abriu o Tour deste ano, foi o suíço Fabian Cancellara (Saxo Bank), considerado por muitos imbatível em contra-relógios na atualidade. Ele levou 1h00min56s para concluir o percurso. Em segundo lugar, também como aconteceu no prólogo do dia 3, ficou o jovem alemão Tony Martin (HTC Columbia), 17 segundos atrás. Dos quatro ciclistas que ainda disputavam a camisa amarela, o mais bem colocado foi o russo Denis Mecnhov (Rabobank), com 3min51s de atraso, sendo o 11º melhor tempo. Sua colocação lhe garantiu uma posição no pódio geral, pois ultrapassou o espanhol Samuel Sanchez (Euskaltel) e terminou em terceiro lugar geral. Na briga entre Contador e Schleck, a diferença foi menor que a prevista por muitos. Com um ótimo desempenho, Schleck levou apenas 31 segundos a mais que Contador para completar o percurso.

Já neste domingo, uma grande festa para finalizar o Tour, na chegada na avenida Champs-Elysées, em Paris. Disputa mesmo só na chegada, pois ainda seriam distribuídos pontos para os que vencessem as duas metas volante (planas) e os 25 primeiros que cruzassem a linha de chegada, definindo assim o dono da camisa verde. O vencedor, assim como no ano passado e pela quinta vez em 2010, foi Cavendish, ganhando mais 35 pontos. Mas não foi suficiente para tirar a diferença para o então dono da camisa, o italiano Alessandro Petacchi (Lampre), que acabou chegando em segundo lugar e ficou com a camisa verde.

Resultados finais – site oficial: www.letour.fr/

Camisa amarela – líder geral

1º - Alberto Contador, Astana (91h 58min 48s)
2º - Andy Schleck, Saxo Bank (91h 59min 27s)
3º - Denis Menchov, Rabobank (92h 00min 49s)

Camisa verde – líder por pontos

1º - Alessandro Petacchi, Lampre (243 pontos)
2º - Mark Cavendish, HTC Columbia (232 pontos)
3º - Thor Hushovd, Cervelo (222 pontos)

Camisa branca – líder entre ciclistas até 25 anos

1º - Andy Schleck, Saxo Bank (91h 58min 48s)
2º - Robert Gesink, Rabobank (92h 08min 19s)
3º - Roman Kreuziger, Liquigas (92h 10min 42s)

Camisa branca com bolinhas – melhor escalador

1º - Anthony Charteau, Bbox (143 pontos)
2º - Christophe Moreau, Caisse d’Espargne (128 pontos)
3º - Andy Schleck, Saxo Bank (116 pontos)

Equipes

1º - Radioshack, EUA (276h 02min 03s)
2º - Caisse d’Espargne, Espanha (276h 11min 18s)
3º - Rabobank, Holanda (276h 29min 52s)

terça-feira, 20 de julho de 2010

À conquista de Paris!



Muitas emoções nos primeiros dias de escalada dos Pirineus. Uma ótima briga está sendo travada entre os quatro primeiros colocados na classificação geral. E uma troca de mãos na camisa amarela que foi muito contestada pelo público. Vamos ao que ocorreu nessas quatro etapas.

No sábado, uma etapa considerada plana pela organização. Apesar de contar com cinco metas de montanha, nenhuma passava da categoria 3, além de duas metas volante (planas), uma nos 38 km finais. Nada muito diferente das outras etapas planas, onde os sprinters foram os primeiros a chegar. Apesar de não ser um sprinter, o vencedor foi o cazaque Alexander Vinokourov (Astana), que na última meta de montanha do dia assumiu a ponta e não foi alcançado na descida. 13 segundos depois de Vinokourov, o pelotão chegou, disputando os pontos em um sprint final. Para variar, Mark Cavendish (HTC Columbia) cruzou em “primeiro” entre os sprinters. Nada mudou na disputa pela camisa amarela.

E no domingo a chegada aos Pirineus! A princípio, apenas duas metas volante, mas a partir do quilômetro 106, começou a subida ao Port de Palhéres (HC, 2.001m de altitude), e logo em seguida uma subida de categoria 1 até a linha de chegada na cidade de Ax 3 Domaines. Durante essa última subida, a briga entre Schleck, Contador, Sanchez e Menchov (os quatro primeiros na classificação geral) foi incrível. Os dois primeiros, líder e vice respectivamente, não se desgrudavam em momento algum. Mais à frente, Sanchez (Euskaltel), terceiro, e Menchov (Rabobank), quarto, estavam muito mais agressivos, se atacando a todo tempo. Enquanto isso, o francês Chritophe Riblon (AG2R), atleta da fuga, se distanciava e acabou ganhando a etapa. 54 segundos mais tarde, Menchov e Sanchez chegaram juntos. 14 segundos depois, um pequeno grupo contendo Schleck e Contador. No final das contas, Sanchez e Menchov acabaram cortando 14 segundos na diferença para os líderes Schleck e Contador e estão vivos na disputa pela camisa amarela, uma vez que têm grandes chances de ir bem no contra-relógio de sábado.

Uma grande surpresa estava guardada para a segunda-feira. E uma das mais infelizes para o jovem Schleck. Em suma, durante a última meta de montanha do dia, o Port de Balès (HC, 1.755m de altitude), o luxemburguês começou um ataque a Contador, assim como o espanhol o fizera na sexta-feira. Quando se distanciara alguns metros de seu concorrente, a corrente da bicicleta de Schleck se soltou. Talvez pela empolgação de estar fazendo um ataque decisivo, ele tenha pedalado ao mesmo tempo que mudou a marcha, causando o problema. Talvez foi apenas azar. Quem mais se aproveitou disso foi Contador. Ele disparou enquanto Schleck e os membros da Saxo Bank, sua equipe, recolocavam a corrente. Foram segundos preciosos. Pelo segundo dia seguido, um francês que estivera na fuga levou a etapa. Foi Thomas Voeckler (Bbox). Contador, Sanchez e Menchov cruzaram 2:50 minutos mais tarde. Schleck fez o que pôde, mas só cruzou a linha 39 segundos depois dos três concorrentes. A camisa amarela voltava às mãos do atual campeão.

A etapa de ontem até que foi dura em termos de subida. Duas metas de categoria 1 e duas HC. Porém todas nos 138 km iniciais. Os 60 km finais foram de metas volante. Isso favoreceu ao grupo da fuga, que após passar pelo Col d’Aubisque (HC, 1.709m de altitude) começou a descer e não mais foi alcançado. Dentre os nove atletas do grupo, ninguém mais que Lance Armstrong (Radioshack). Ele até que estava presente no sprint final, mas os 39 anos e as quatro impiedosas subidas fizeram com que ele cruzasse a linha apenas em sexto, mas com o mesmo tempo do primeiro colocado, o também francês Pierrick Fedrigo (Bbox). A colocação não mudou muito a situação de Armstrong, que ainda está mais de 30 minutos atrás do camisa amarela. Mas, em comparação com tudo o que ele passou no Tour deste ano, essa pode ser considerada a vitória da sua despedida. O pelotão chegou 6:45 minutos mais tarde, com os quatro líderes, como sempre colados. Nessa disputa, nada mudou.

Amanhã, de volta ao batente no 17º estágio. Um estágio duríssimo, 174 km entre Pau e o Col du Tourmalet. Duas metas de categoria 1 e a linha de chegada em uma meta HC a 2.115 m de altitude e com subidas de 9% de inclinação. O resultado deste estágio será um dos grandes definidores do resultado final, restando ainda o contra-relógio.

Na sexta-feira, um 18º estágio plano do início ao fim. 198 km entre Salies-de-Béarn e Bordeaux. A disputa pela camisa amarela talvez não sofra muitas alterações neste dia, mas a disputa pela camisa verde (a disputa dos ciclistas com mais pontos) poderá sim sofrer mudanças. Quem gosta de sprints finais, não pode perder.

O contra-relógio individual de sábado, 52 km entre Bordeaux e Pauillac, será o divisor de águas na decisão final da camisa amarela. Dependendo do que acontecer na quinta e na sexta, a disputa de sábado pode se centralizar em Contador, Sanchez e Menchov, que são ótimos sprinters. Especialistas acreditam que Schleck tem poucas chances, pois é um melhor escalador do que sprinter. Se ele não recuperar a amarela e colocar uma boa diferença à frente dos três supracitados, suas chances serão poucas no contra-relógio.

No domingo, o fechamento da edição 2010 do Tour de France. Um estágio onde a competição dará lugar à festa do povo francês. Festa essa que vem se repetindo desde 1903, mas que mesmo assim ninguém quer ficar de fora. E que cenário melhor para uma celebração, do que Paris? Do que a avenida de Champs Élysées, com o Arco do Triunfo ao fundo? É para poucos.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A seleção natural nos Alpes franceses


Professores de biologia da oitava série deveriam sempre usar a segunda semana do Tour De France para exemplificar o conceito de seleção natural.

Depois de uma semana onde os sprinters (velocistas) fizeram a festa e ganharam todos os estágios, o Tour passeou pela fronteira da França com a Suíça, ou seja, exatamente na cadeia de montanhas que separa as duas nações. As subidas castigaram os sprinters, mas filtraram bem a disputa pela camisa amarela. “Só os mais fortes sobrevivem.”

Vamos ao que aconteceu em cada dia dessa semana.

O primeiro desafio dos ciclistas nos Alpes franceses partiu de Tournus no último sábado, percorrendo 165,5 km até Station des Rousses. Os sprinters não resistiram às fortes subidas de categoria 2 (veja no pé da postagem uma explicação das categorias de subida) e passaram a ocupar a rabeira do pelotão. O então líder geral Fabian Cancellara (Saxo Bank) entrou no sétimo estágio com 20 segundos de frente, mas terminou a etapa com mais de 14 minutos de atraso. O francês Sylvain Chavanel (Quick Step), que havia se desgarrado do pelotão durante o estágio, suportou bem a subida e não foi alcançado pelo restante do grupo. Ele colocou uma ótima diferença de 57 segundos para o segundo colocado e cerca de 1:40 para o pelotão. Muita festa na chegada em Station des Rousses, ao ver um francês vencer o estágio e pegar a camisa amarela.

Chavanel herdara a camisa da mesma forma que no estágio 2, ou seja, apostando todas as fichas em uma fuga e não foi alcançado após isso. Mas ele também a perdeu exatamente da mesma maneira. Duas subidas de categoria 1 foram suficientes para fazer o francês chegar mais de 11 minutos atrasado. Para a tristeza de sua legião de fãs, Lance Armstrong (Radioshack) sofreu duas quedas durante o percurso e praticamente deu adeus ao sonho do oitavo título do Tour. O grupo que contava com o atual campeão do Tour Alberto Contador (Astana), o atual campeão mundial Cadel Evans (BMC) e o jovem Andy Schleck (Saxo Bank) chegou inteiro para os quilômetros decisivos - uma subida - mesmo depois das fortes subidas anteriores. Ousado, o luxemburguês Schleck não temeu os campeões e pedalando forte conseguiu vencer a etapa, com 10 segundos de frente para os dois. Como estava 30 atrás de Evans na classificação geral, o australiano ficou com a amarela e Schleck em segundo. Contador, no terceiro posto, teve 1:41 de atraso.

Na segunda-feira, descanso. Porque no dia seguinte...

Duas subidas de categoria 1 e uma HC esperavam pelos ciclistas nos 204,5 km entre Morzine-Avoriaz e Saint-Jean-de-Maurienne. Pelo terceiro estágio consecutivo a camisa amarela mudou de mãos. Evans também não suportou as subidas e levou oito minutos de atraso para cruzar a linha. Ele chorou horrores ao terminar a prova. Mas o grande momento do dia foi protagonizado por Schleck e Contador. Durante a escalada de 27 km na subida do Col de la Madeleine (2.000m de altitude), os dois travaram um duelo épico. Não temendo a falta de perna nos quilômetros finais, eles subiam com toda a força, se atacando e alternando posições a todo instante. No fim, a briga entre os dois continuou, mas quem levou a etapa foi um dos que haviam se desgarrado do pelotão no início da etapa, o francês Sandy Casar (Française des Jeux). Schleck e Contador chegaram dois segundos depois, juntos. Com o atraso de Evans, Schleck ficou com a camisa amarela e Contador, 41 segundos a mais, ficou em segundo.

No décimo estágio, um percurso metade plano, metade montanhoso, mas com apenas uma subida de categoria 1 muito curta. Após uma etapa duríssima no dia anterior, as equipes concordaram em adotar uma estratégia comum: abdicar de alcançar a fuga e manter um ritmo único para o pelotão. Ninguém queria se expor a maiores riscos. Isso facilitou a vida dos seis atletas da fuga. O vencedor foi o português Sergio Paulinho (Radioshack), sendo o primeiro português a vencer uma etapa do Tour desde 1989. Após Paulinho cruzar a linha, o pelotão levou mais de 14 minutos para fazer o mesmo. Nenhuma alteração na classificação geral.

No estágio 11, uma interrupção nas metas de montanha. Os sprinters agradeceram! Com apenas uma “mera” subida de categoria 3 no princípio do percurso, sobravam cerca de 130 km de estradas planas, ou até mesmo leves declives. Assim como na primeira semana, várias equipes protagonizaram uma bela disputa nos dez quilômetros finais, visando trazer seus sprinters para a reta final. Mas ninguém melhor para vencer do que sprinter mais veloz do planeta, o britânico Mark Cavendish (HTC Columbia). Com outro sprint final extraordinário, ele conseguiu colocar uma vantagem de duas bicicletas para o segundo colocado e vencer seu terceiro estágio no Tour deste ano. Mas nada que mudasse muita coisa na disputa pela camisa amarela.

Na sexta-feira, um estágio em sua maioria plano, mas com uma subida de categoria 2 e quase 10% de inclinação na pior colocação possível – nos cinco quilômetros finais. O pelotão só foi alcançar a fuga depois de 205 km, nessa subida final, o Col de La Croix Neuve. Ali, Contador e Schleck ainda se encontravam juntos, em ritmo baixo, mas o atual campeão “deu o bote” e pegou o jovem Schleck de surpresa. O espanhol se desgarrou do pelotão na subida e Schleck não teve pernas para persegui-lo. Com o ataque, Contador chegou até a ultrapassar o líder do estágio, o compatriota Joaquin Oliver Rodriguez (Katusha), porém, depois de um ataque como aquele, Contador foi presa fácil para Rodriguez no sprint final. Shcleck chegou dez segundos depois e manteve a camisa amarela. Mas a diferença dele para Contador caiu para apenas 31 segundos. Em uma semana inteira, é pouco provável que o espanhol não faça essa diferença evaporar facilmente.

De leste a oeste, o Tour chega agora à cadeia de montanhas que separa França e Espanha. Os temidos Pirineus. Após uma etapa plana neste sábado, de domingo a quinta-feira (com folga na quarta-feira), o grupo encontrará muitas subidas de categorias 1 e HC. Após o estágio 17, as coisas se tranqüilizam, com uma etapa plana, um contra-relógio que certamente será o diferencial para a definição do campeão e, no domingo, um dia de festa em Paris, onde quem estiver vestido de amarelo ao cruzar a Champs-Élysées, será aclamado o grande campeão do Tour de France 2010.

Categorias de subidas



No TDF, as subidas são categorizadas por, entre outros fatores, sua inclinação. São quatro categorias onde quanto menor o número, mais íngreme é a subida. Há também as subidas que alcançam mais de 1.500 m que não se encaixam nessas categorias e são chamadas de HC (“hors catégorie” no francês, “fora de categoria” no português).

- Categoria 4: a menor, com subidas que culminam em alturas de 70 a 150m;
- Categoria 3: subidas de 150 a 500m;
- Categoria 2: subidas de 500 a 800m;
- Categoria 1: subidas de 800 a 1500m;
- Fora de categoria (HC): as maiores, com subidas de 1500m para cima.

sábado, 10 de julho de 2010

Uma semana louca, uma semana emocionate

O britânico Mark Cavendish celebra sua vitória no 6º estágio, nesta sexta-feira

É hora de subir a serra!

Chega ao fim a primeira semana da competição ciclística mais importante do planeta, o Tour de France. Por mais que nós ciclistas, amadores ou profissionais, saibamos enxergar emoção em cada etapa de Le Tour, estou certo de que nenhum de nós esperava uma primeira semana tão frenética.

Primeiro porque a maioria dos trajetos destas seis primeiras etapas e do prólogo que abriu a competição no último sábado deu-se em regiões planas. Quase sempre é chato acompanhar o pelotão andando em um ritmo imutável durante 190 km, se guardando para os 10 km finais. As etapas desta semana mostraram o porque do "quase sempre."

Nada de anormal no primeiro dia. No último sábado, disputou-se um contra-relógio de 8,9 km em Roterdã, na Holanda. O melhor tempo ficou com o suíço da equipe Saxo Bank Fabian Cancellara, que concluiu o percurso em dez minutos e ficou com a camisa amarela (indicação do líder geral do Tour). Entre os melhores tempos, ficaram os do americano e lenda viva do esporte Lance Armstrong (equipe Radioshack), 22 segundos atrás de Cancellara, e do atual campeão, o espanhol Alberto Contador (equipe Astana), 27 segundos atrás.

Já o segundo dia – Estágio 1 - trouxe algumas dolorosas surpresas aos competidores, mesmo sendo totalmente plano. Para começar, nos primeiros dos 223 km entre Roterdã e Bruxelas, na Bélgica, um cão invadiu a rodovia bem na frente do pelotão, causando a queda de alguns ciclistas e a quebra parcial do pelotão. Tudo bem, nada tão sério. O pior estava para o final. Talvez pelo excesso de vontade, três quedas bagunçaram os últimos quilômetros da prova. Todas as estratégias planejadas pelos chefes de equipe para o sprint final foram por água abaixo e a vitória na etapa “sobrou” para o italiano Alessandro Petacchi (Lampre). A camisa amarela não mudara de mão, pois a diferença de dez segundos entre Cancellara e o segundo colocado não foi superada.

O segundo estágio dava mostras de que não seria fácil. Os 201 km entre Bruxelas e Spa, ainda na Bélgica, começavam planos e terminavam com subidas e descidas – as chamadas etapas de montanha. Para piorar, o verão belga é chuvoso e uma leve garoa deixou a estrada como manteiga. Não deu outra: quedas! Uma delas, generalizada, que acabou com o pelotão em uma estreita curva. O francês Sylvain Chavabel (Quick Step), que havia se destacado do pelotão no início da etapa, não tinha nada com isso e aproveitou para assumir a ponta isoladamente e colocar uma diferença de quase quatro minutos entre ele e o pelotão. Camisa amarela para ele, três minutos de dianteira na classificação geral. Em forma de protesto e solidariedade com os atletas acidentados, o pelotão chegou aos metros finais da etapa sem disputar posições através do sprint final, ficando todo o grupo com o mesmo tempo.

Etapa plana e céu limpo no quarto dia. Promessa de tranqüilidade, correto? Nada disso! Saindo de Wanze, Bélgica, o grupo percorreu 213 km até Arenberg Porte du Hainaut, França, e muita gente beijou o chão. Apesar de plana, a etapa possui trechos de pequenas estradas com calçamento (chamadas pavé, em francês), motivo maior das quedas e dos furos de pneu. A menos de 20 km da chegada, em um trecho estreito, outra grande queda generalizada no meio do pelotão. Um dos favoritos, Frank Schleck (Saxo Bank), teve contusão séria nessa queda e abandonou o Tour, com cirurgia no ombro programada para o mesmo dia. O pavé estragou a bicicleta de muitos, entre eles o sortudo do dia anterior, Chavanel, que trocou de bicicleta duas vezes. O impensável, então, aconteceu: a diferença de três minutos que o francês conseguira no dia anterior simplesmente evaporou e ele conseguiu ficar com um minuto de atraso, dando adeus à camisa amarela. Contando desta vez com o sprint final, o norueguês Thor Hushovd (Cervelo Test Team) venceu. Cancellara conseguiu chegar junto com os sprinters e, com o atraso de Chavanel, recuperou a camisa amarela.

Nas etapas seguintes, nada de novos grandes tombos que atrapalhassem o pelotão e muita retidão. Emoção apenas nos sprints finais e na disputa das equipes pelas primeiras posições. Cancellara mantém a camisa amarela até o momento, com 20 segundos de frente para o segundo colocado. Mark Cavendish finalmente mostrou a que veio, vencendo os estágios de quinta e de sexta-feira, mas não se sabe se ele se sairá tão bem nas montanhas, pois sua especialidade são os sprints.

Daqui pra frente, o bicho vai pegar. Chega de etapas planas, pois é hora de subir a serra! Começando neste sábado com o sétimo estágio, até o décimo-sétimo estágio em 22 de julho, haverão muitas (eu disse muitas!) etapas de montanha, onde apenas os mais resistentes conseguirão vencer. É aí que se espera que os grandes favoritos como Armstrong e Contador realmente mostrem sua capacidade, pois até agora, muitas surpresas dominaram a parte de cima da classificação geral.