segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Preguiça e contradição: bem-vindo a Belo Horizonte

Uma matéria bastante sensacionalista, em um jornal popular veiculado em Belo Horizonte (Super Notícia) no último domingo, 14, trouxe uma análise de dados bastante interessante. Clique aqui para lê-la. Óbvio, não entrarei no mérito da estratégia comunicativa da matéria, que foi paupérrima, mas ela se adequa ao público alvo do jornal e, convenhamos, chama a atenção de qualquer um.

Intitulada "No trânsito da capital, até peru vai mais rápido do que os ônibus", a matéria, de autoria de Tâmara Teixeira, traz dados, segundo a mesma, obtidos com exclusividade junto à Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans). Os dados dizem respeito à velocidade média dos veículos nos deslocamentos urbanos da capital. Como mencionei, a matéria utilizou uma maneira sensacionalista de expor as informações. Mas tentarei explicá-los.

Os ônibus da capital mineira têm uma velocidade média de 20 km/h em seus trajetos. Porém, na região central do município, nos horários de pico, esta velocidade cai para a inacreditável média de 9 km/h. Vale citar que o hipercentro de Belo Horizonte é local de tráfego de veículos e pessoas de toda a região metropolitana da capital, que possui cerca de 5 milhões de habitantes.

A visão da BHTrans já é pessimista, segundo o seguinte trecho da matéria mostra:

"Segundo o gerente de planejamento da BHTrans, Célio Freitas, não há qualquer previsão para aumentar a velocidade dos automóveis. 'Não conseguimos fazer uma melhoria. Mesmo se cumprirmos todo o plano de mobilidade da prefeitura, o automóvel permanecerá com essa velocidade (25km/h). A tendência é piorar. Então, se mantivermos o que temos hoje, já é uma melhora', disse."

Freitas é, de duas, uma: um pessimista ao extremo ou alguém que desconhece as propostas da própria empresa onde trabalha. De acordo com o site da BHTrans, na definição do programa "Pedala BH", o planejamento "prevê a implantação de cerca de 365 km de ciclovias" e que "141 km de ciclovias estão em fase de elaboração de projetos em diversas regiões da cidade". Por acaso o gerente desconhece esse projeto ou simplesmente acredita que o mesmo não irá melhorar em nada a mobilidade urbana da cidade?

Através do mapa abaixo, se pode perceber que o projeto é ambicioso. Porém, adjetivos como "utopista" e "eleitoreiro" também podem ser usados, uma vez que as eleições municipais estão à porta. As linhas vermelhas representam as ciclovias já existentes, enquanto as linhas verdes representam as ciclovias vislumbradas pelo "Pedala BH":

Clique na imagem para ampliá-la

Falando do ponto de vista da mobilidade urbana, a fala de Freitas, afirmando que mesmo se todo o plano de mobilidade da prefeitura for cumprido a velocidade média dos automóveis não aumentará, se torna um absurdo tremendo. A quantidade de ciclistas nas ruas da capital está crescendo, mesmo sem a existência de ciclovias funcionais no município (na teoria, são 22 quilômetros, mas que não ligam nada a nada).

Não duvido que o número de pessoas que deixariam o carro em casa para se deslocar com a bicicleta aumentaria consideravelmente com a existência de ciclovias. Se (somente "se") o projeto do "Pedala BH" sair do papel, a mobilidade urbana e a velocidade média do trânsito da cidade aumentariam, sem sombra de dúvidas, ao contrário do que Freitas alega.

Mas há, além do ponto de vista da mobilidade urbana, o ponto de vista das vidas que são ceifadas nos asfaltos de todo o Brasil. No último dia 17, Rubens Vieira, o Rubão, de 53 anos e pai de quatro filhos, foi assassinado por um motorista embriagado na Via Expressa, na região noroeste da capital. É desnecessário afirmar que ciclovias podem evitar mortes no trânsito.


A repórter Tâmara Teixeira pode ter sido meramente "infeliz" ao usar a velocidade de um peru para chamar a atenção para o problema da mobilidade urbana em Belo Horizonte. Porém, a matéria serviu, e muito, para mostrar qual é a posição dos governantes do município, em relação aos planos para a melhora do trânsito na cidade: há preguiça, má vontade e completo descaso. Afinal, há, sim, o que se fazer. Basta fazer.

Um comentário:

  1. Muito bem, Thiéres. Legal o seu texto. Siga em frente!

    Abs

    Leandro Bittar

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